segunda-feira, 13 de julho de 2009

Se levarmos em conta o preconceito que as pessoas ditas "normais" tem para com os soro positivos, classificados como "ameaças", a resposta seria não. Fomentados por uma gama de preconceitos e de ideias retrógradas, essas pessoas se colocam acima de qualquer suspeita e criam um mundo de perfeição, onde o que impera são as suas verdades, seus ideais, seu mundo de sonhos. Entretanto, não se pode criar uma redoma de vidro e excluir tudo o aquilo que não é visto como "positivo" de nossas vidas. Os nazistas já tentaram isso uma vez ao criarem a ideia de raça superior e de que os mais fracos e inferiores deveriam ser exterminados. E mataram milhões de judeus, comunistas, homossexuais, ciganos, doentes mentais, paraplégicos, etc. Durante a Idade Média, a Igreja Católica tratou de perseguir e matar todos aqueles considerados "diferentes" pelos seus dogmas. A mesma Igreja Católica tratou de escravizar e matar milhões de africanos, ora por lucro, ora para beneficiar uma outra etnia - os ameríndios. A diferença, a alteridade, sempre foi vista com suspeita por parte dos detentores do poder, que vislumbram um mundo onde a "paz e a harmonia entre as pessoas de bem possa reinar". A própria questão da escravidão, mesmo a moderna, é fundamentada na diferença. Senão vejamos: por que sempre o estrangeiro é o escravo? Se voltarmos no tempo e lembrarmos da escravidão na Grécia, em Roma, no Egito, ela sempre foi atribuída ao elemento externo e raramente ao local. Então, por que isso ocorre? Pode parecer que ao inveredarmos pela questão da escravidão estejamos fugindo da proposta inicial, mas é tudo uma questão só: a alteridade. Quando escravisamos, ou matamos ou impedimos alguém de gerar uma vida, estamos tratando o "diferente" como se fosse algo apavorante e monstruoso e, portanto uma ameaça à perfeição que reina no mundo dos "justos e belos". Algo que se contrapõe como feio e miserável, uma doença grave que vai contaminar suas entranhas. Continuo acreditando que o mundo é bom. As pessoas que vivem nele é que são ruins e tolas. Ao moldar um ambiente favorável à própria existência, essas pessoas esqueceram-se do outro, pois vislumbram o próprio "umbigo", o próprio ser, num individualismo mercadológico que despreza tudo aquilo que for classificado como "anormal".Os avanços tecnológicos e medicinais permitem a qualquer ser humano ter uma vida plenamente normal, seja ele soro positivo ou não. Evidentemente que há uma questão governamental muito complicada nisso, principalmente quando falamos do Sistema Único de Saúde brasileiro. Sabemos dos problemas que rondam nosso sistema de saúde pública e a questão do tratamento dos soros positivos ganha um ar dramático ainda maior, quando o assunto é remédio para conter o avanço da doença. Não estou de forma alguma querendo com isso, como diz o ditado, "ser uma barate e morder e soprar". Longe disso, estou mostrando que essa questão possui duas faces bem distintas e conflitantes por si só. Não podemos nos perder nessa linha de pensamento e levar uma para dentro da outra ou separá-las, por mais paradoxal que isso possa parecer - apesar de vivermos num país cheio de paradoxos e ambiguidades. O que estou tentando mostrar é que o direito à vida é inalienável e, portanto, garantido por lei. Mas, é preciso entender quais os riscos e as circunstâncias de cada caso. Como as pessoas responsáveis pela gravidez vão tratar a paciente e dar-lhe a atenção devida para que sua prole possa nascer sem risco. Como o SUS vai se comportar ao receber uma futura mãe soro positiva, talvez seja a maior de todas as questões. Devo lembrar que nesse caso, a questão não se prende só ao direito, que é inalienável como já disse antes, de se engravidar ou não. Mas sim, como aqueles que são responsáveis pelo andamento dessa gravidez vão tratar a mãe e a criança. Assim, no que se refere ao direito de um soro positivo ter filhos, sou totalmente a favor, mas mantenho minhas ressalvas sobre o comportamento das autoridades de saúde para com os envolvidos nesse processo.

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